Seminário do CRILUS/Cátedra Lindley Cintra “A Língua Portuguesa Em Culturas “: História Da Língua Portuguesa. Da Formação À Expansão
por
Maria Ana Ramos (Universidade de Zurique)
Seminário no quadro do ciclo do «A Língua Portuguesa em culturas », do Centre de recherches interdisciplinaires sur le monde lusophone (CRILUS – Etudes Romanes) da Universidade Paris Nanterre, proposto por Graça dos Santos e José Manuel da Costa Esteves, em parceria com a Cátedra Lindley Cintra, Leitorado Paris 8 Vincennes St. Denis e Casa de Portugal – André de Gouveia.
Data: 21 de outubro 2021, 13h
Local: Université Paris Nanterre, UFR de Langues, Bât. Ida Maier, salle 213
Maria Ana Ramos (Universidade de Zurique)
«História da Língua Portuguesa. Da formação à expansão »
A história do português corresponde à história da formação, evolução e expansão de uma variedade linguística, que se gerou no noroeste da Península Ibérica, tornando-se posteriormente individualizada como língua falada e escrita em Portugal, e em vários países, que hoje se expressam oficialmente por este idioma.
De acordo com diferentes aspetos linguísticos (fonéticos, morfológicos, sintáticos, lexicais), o português é essencialmente resultante de transformações de variedades do latim, difundidas pelos romanos a partir do século III a. C., e do impacto com contextos linguísticos e histórico-sociais presentes na Península Ibérica.
Os documentos mais antigos produzidos em português, ainda imbuídos de algumas sequências latinas, são produtos notariais, datados do século IX. Este proto-português revela já características muito precisas de uma variedade linguística ocidental, que se distanciará das outras variedades ibéricas (entre os séculos IX e XII).Adotado por muitos manuscritos, este primeiro período do português – galego-português – torna-se uma língua de bastante prestígio no séc. XIII, que ilustrará uma literatura riquíssima e original. Promulgada língua oficial da administração, neste final de século, rapidamente se distinguirá como a língua de um reino que alcançará importante estabilização durante o Renascimento sob o dinamismo da imprensa (o apogeu literário e uma consciência da identidade nacional sob os nomes emblemáticos do Gil Vicente e Camões). A normalização linguística concretiza-se em 1536, com a publicação das primeiras convenções gramaticais (Fernão de Oliveira e João de Barros).Foi também nos sécs. XV e XVI com o movimento expansionista das descobertas (1415… 1498… 1500), que o português se dispersou fora de Portugal, desencadeando o surgimento de crioulos léxico-portugueses em África e na Ásia, e desenvolvendo diferenciações linguísticas entre o português europeu e português fora da Europa, não só em África e na Ásia, mas sobretudo no Brasil. Procuramos nesta apresentação explicar a génese do português e o desenvolvimento das suas variedades linguísticas, sem deixar de mencionar as questões normativas, especialmente entre o português europeu, o português falado em África e o português, que se difundiu e se desenvolveu no Brasil.
Maria Ana Ramos formou-se na Universidade Clássica de Lisboa na Faculdade de Letras (Licenciatura e Doutoramento), onde ensinou principalmente História da Língua Portuguesa durante vários anos. Após uma especialização em Filologia Românica na Universidade de Roma, na La Sapienza (três anos), trabalhou no Romanisches Seminar na Universidade de Zurique, onde ensinou Língua, Linguística, Literatura e Filologiaportuguesas desde 1986 e onde obteve também a Habilitação (Agregação) em Filologia Românica (focalizada na Filologia do Português) e a direção da Cátedra Carlos de Oliveira (Camões IP).
Os grandes domínios da sua investigação concentram-se na história da lírica galego-portuguesa, nas variações textuais da sua produção, nos processos de transmissão e na recepção medieval e quatrocentista de coleções poéticas coletivas, em particular no que se relaciona com o Cancioneiro de Ajuda, códice sobre o qual desenvolveu um trabalho aprofundado, tendo publicado, para além do ensaio, que acompanha a edição fac-similada deste Cancioneiro (1994) e a reimpressão da edição diplomática (2007), um estudo que apreende a eloquência dos espaços em branco neste manuscrito dos finais do século XIII (1986), o que lhe permitiu uma significativa reflexão sobre a especificidade da previsão musical para as fiindas na lírica galego-portuguesa (1984) e sobre o sentido da separação silábica e intervocabular de alguns termos na dependência da notação neumática prevista no manuscrito (1995). Já em 2008, publicou um amplo estudo com base no exame codicológico, paleográfico e grafemático do manuscrito (Cancioneiro da Ajuda. Confecção e Escrita).
Para além deste domínio essencial, com trabalhos publicados recentemente (2019, 2020) interessou-se ainda por vários outros domínios da literatura medieval, entre os quais, as formas narrativas breves, os aspetos linguísticos do teatro de Gil Vicente, com o exame de uma língua artificial durante o século XVI, a língua dos ciganos (2003), tendo ainda procurado estudar o período literário em França do princípe Afonso, le Boulonnais, futuro Afonso III de Portugal, responsável pela dinâmica cultural da corte portuguesa (2003, 2005, 2011, 2013, 2016).
Sempre no âmbito medieval, ocupou-se também da transmissão de formas narrativas breves, em especial após a descoberta de um novo manuscrito português, datado dos inícios do século XVI, da fascinante Lenda de Gaia, que se insere na apropriação anacrónica da circulação do importante mito da mulher de Salomão (2004, 2010, 2011, 2018).
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