Sessão sob a forma de webinário no quadro do ciclo de seminários doutorais (abertos aos mestrandos) «A Língua Portuguesa em culturas », do  Centre de recherches interdisciplinaires sur le monde lusophone (CRILUS – Etudes Romanes) da  Universidade Paris Nanterre, proposto por Graça dos Santos e José Manuel da Costa Esteves, em parceria  com a Cátedra Lindley Cintra e Casa de Portugal –  André de Gouveia.

Datas: 30 de março 2021, 14H – 16H
Elementos para a Inscrição: Para poder assistir à Sessão, escrever um mail para: mdossantos@parisnanterre.fr

Cartografias do feminino na obra de Maria Ondina Braga 

Em introdução do livro Mulheres escritoras (1980), onde reuniu treze admiráveis biografias de mulheres que se impuseram no universo tradicionalmente masculino da escrita, Maria Ondina Braga apresenta um conjunto de escritoras apontadas como exemplo de tenacidade num universo dominado por preconceitos e pela hipocrisia e intolerância, mulheres que ousaram desafiar os códigos de uma sociedade marcadamente repressora. Dotada de um grande sentido social e de uma profunda dimensão humana, a vasta produção literária de Maria Ondina Braga apresenta-nos, de igual modo, um imenso painel de mulheres solitárias, ora presas a ritos plurisseculares que lhe tolhem a liberdade, ora inebriadas pelo sabor excêntrico da transgressão, viajantes solitárias em busca de pistas possíveis no caminho da emancipação. Cruzando a interioridade com a dimensão sociológica, Maria Ondina Braga procura delinear, por entre questionamentos identitários e posições discretamente acusadoras, um fatum feminino que se exprime nas práticas quotidianas das personagens que centram as suas narrativas. Procuraremos aqui analisar a forma como as protagonistas ondinianas, solitárias e marginalizadas por estruturas obsoletas, personificam uma certa revolta feminina contra uma sociedade obscurantista e atrofiante que as reduz à condição de subalternidade, levando o leitor a refletir sobre questões que se prendem com configurações ou estereótipos de género, mecanismos de opressão e relações de poder e dominação.

Maria Araújo da Silva é  professora associada em Estudos Lusófonos na Sorbonne Université, desde 2006. Membro do Centre de Recherches Interdisciplinaires sur les Mondes Ibériques Contemporains (CRIMIC), com investigação realizada no domínio da literatura portuguesa contemporânea e particularmente da escrita de autoria feminina. Em 2009, recebeu o Prémio Literário Maria Ondina Braga com um ensaio resultante da sua tese de doutoramento, defendida em 2005. Co‑dirigiu, entre outros, os livros de ensaios Femmes oubliées dans les arts et les lettres au Portugal XIXe‑XXe siècles(com Maria Graciete Besse, 2016), Exiliance au féminin dans le monde lusophone XIXe‑ ‑XXe siècles (com Maria Graciete Besse, Ana Paula Coutinho e Fátima Outeirinho, 2017) e Paris, Mário de Sá‑Carneiro et les autres (com Fernando Curopos, 2018).